Descanso
Paulo seguia pela estrada em uma velocidade permitida. Pelos seus cálculos deveria chegar em Pasárgada em umas duas horas. Estava exausto após passar o dia anterior derrubando as árvores da casa de Dona Magda. Pensava com saudades em seus namoricos que deixava para trás, mas sabia que poderia descansar à vontade. Quando a chuva passou pôde sentir-se mais seguro para acelerar mais. Faltava pouco agora. Então, avistou em frente uma fina coluna de fumaça alcançando o céu. “Deve ser um daqueles chalés rústicos da região”, pensou.
Após uma parada em uma lanchonete para comprar biscoitinhos e água, voltou animado para o carro. Teria o descanso que tanto desejara! Alguns quilômetros à mais e começou a ver casas e chalés, todos com carro na frente. Então, mas a frente estava um grande objeto atravessando a estrada. Freiou aos poucos até conseguir visualizar melhor. Era uma grande árvore. Parou o carro bem em frente a árvore. Saiu do carro e olhou para os lados. Casas ficavam a alguns metros da árvore, todas com um carro estacionado na frente. De uma delas vinha uma animada música e o som de risadas. Aparentemente pessoas dançavam ali, em plena manhã. Do outro lado da estrada uma janela exalava um delicioso sabor de café e torta. Mas ninguém andava pelo gramado repleto de casas com carros na frente. Uma menina se divertia em um balanço preo a uma grande árvore.
- Ei, garotinha! – acenou para a pequena, tirando os óculos escuros. – Vem cá.
- Oi moço – falou timidamente a garota.
- Por que ninguém tirou essa árvore daqui? Pode causar um acidente.
A garota olhou para a árvore como se fosse parte da paisagem.
- Mas ninguém passa por aqui mais. A árvore não deixa.
- Como assim? Basta tira-la do caminho. Preciso ter minhas férias.
Sorrindo, a garota balançou a cabeça. – Não dá moço. Desde que me entendo por gente essa árvore está aí.
- E as pessoas que vem pela estrada como eu? Como elas fazem para passar?
- Ah, elas não passam. Normalmente vêm de férias e ficam por aqui mesmo. – fez um ar pensativo enquanto olhava para Paulo – Na verdade, nunca vi ninguém ir até lá.
Paulo olhou ao redor novamente. Cantavam outra música na casa do outro lado da estrada. Observou melhor a árvore. Ao contrário do que pensava, ela parecia estar ali há bastante tempo. – Você não tem curiosidade de saber o que tem no fim da estrada?
- Hum...não. Já tenho tanta coisa legal para fazer aqui... – e com uma gargalhada gostosa a garotinha voltou correndo para o seu balanço.
Paulo olhou para a estrada por onde veio. Depois deu a volta pela árvore e percebeu que talvez pudesse passar o carro entre os extremos dela e as outras árvores que a cercavam. Mas ao voltar para seu carro sentiu uma chuva fininha cair. Olhou para o céu e viu uma linda aquarela do pôr-do-sol, onde raios de luz misturavam-se com nuvens negras que se confundiam com o cair da noite. As luzes se acenderam dentro das casas e Paulo sentiu o cheiro de um bolinho de chuvas que sua mãe lhe fazia quando era pequeno. – Hum...porque não?
E sorrindo pegou sua mala e trancou o carro, indo em direção a casa onde faziam tortas e café.
By Doutor Estranho
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