Sonhos
O garoto e o cão corriam alegremente pelo quintal. Alguma brincadeira pueril, entre o varal de roupa e a mangueira que ficava lá no fundo. A mãe coloca o rosto para fora da janela e grita alto:
- Menino, vem jantar!!! Para de levantar poeira, senão vai sujar as roupas!
- Já vou mãe!!! – mas ele sabia que ia demorar mais. Ele e o cão riam juntos em travessuras imaginárias que ocorriam muito longe dali. Era impossível não pensar por alguns instantes que o cachorro estaria entendendo a brincadeira. Ficava balançando o rabo e arfando com a língua para fora. Os dois continuavam a correr enquanto uma grande lua saía de trás de algumas nuvens e iluminava palidamente o quintal de terra vermelha. – Vou jantar agora. – o menino olhava fixamente nos olhos do cachorro – Me espera pra gente brincar depois? – e o cachorro sorria com os olhos como se compreendesse que era só questão de tempo para que os dois continuassem sua excursão por lugares distantes.
Da porta da pequena casa a mãe olhava para o filho agachado conversando com o cachorro. Impaciente gritava novamente – Vamos menino! A sopa vai esfriar! Sai desse sereno! – Chateado o garoto entrava na cozinha. – E você vai pra cama, porque amanhã tem que ir pra escola!!
- Mas mãe, eu combinei de brincar com o Bob...
- Deixa de ser besta menino! O cachorro fica aí o dia todo! Vai jantar, se banhar e dormir!
- Mas mãe, ele vai ficar com raiva de mim...
- Você pare com suas gaiatices pra cima de mim! Cachorro não pensa, meu filho! Cachorro não é gente! – ela falava gesticulando. Acuado o menino jantou sem falar nada. Após tomar banho, foi silenciosamente até o quintal e chamou o cachorro para perto tentando fazer silêncio.
- Bob, a mãe não deixa a gente brincar mais hoje, mas amanhã a gente continua depois da aula tá? – falou enquanto carinhava a cabeça do cachorro branco, porém sujo de terra. Bob arfava positivamente e parecia um pouco desapontado. – agora vou dormir, se não a mãe vai brigar comigo.
Após escovar os dentes o garoto vai para cama. A mãe toma um banho após lavar a louça da janta e vai fechar a porta para o quintal. Ao dar mais uma olhada pelo varal para certificar-se de que não esqueceu nenhuma roupa ela vê o cachorro, que lhe lança um olhar cordial – Hum! Conversando com o cachorro ...ora bolas! – resmunga para o vento.
Á noite o vento provoca um frio intenso. Dentro da casa o menino dorme em sua velha cama sonhando com todos os brinquedos que sonha em um dia ter para si. Lá fora o cachorro dorme encima de um velho tapete empoeirado. Suas patas se mexem involuntariamente e seus olhos movem-se. Ele sonha com um imenso campo verde com algumas árvores onde ele e seu dono correm livres, gargalhando por terem todo o tempo do mundo para brincarem juntos. Sem paradas para o jantar. Sem resmungos. E longe daquele lugar onde tudo acaba, mais cedo ou mais tarde, tomado pela poeira.