"Palavras têm poder, sobretudo quando escritas" lhe disseram. Então, meio descrente, decidiu tirar a prova: escreveu num papel aquilo que mais desejava e passou a levá-lo consigo onde quer que fosse; olhando-o de tempos em tempos para lembrar a si mesmo da experiência. Os dias passaram, as semanas, os meses e - quase imperceptivelmante - as coisas se inclinaram favoravelmente à realização daquele desejo.Magia? Coincidência? Teria mesmo dado certo?
"Ora... Não que eu acredite nisso, mas se for mesmo essa a razão continuemos a escrever!" Então, confiante de que era o senhor de seu destino e tudo que nele pudesse acontecer, passou a escrever tudo que queria, tudo que sonhava, tudo; logo seu mundo - presente e futuro - estava todo nas páginas de um caderno, trancado a sete chaves numa caixa debaixo da cama. Quando o caderno acabou, enterrou-o numa noite de lua cheia, para que a terra acolhesse seus sonhos e, do barro, os trouxesse à vida. E assim continuou por anos, escrevendo seu proprio caminho com sonhos, esperanças e seus rituais de magia escrita.
Um dia, contudo, diante das novas responsabilidades e preocupações que o mundo lhe trazia, se esqueceu da magia... se esqueceu de acreditar e de escolher seu próprio caminho. Afinal quem acredita nisso hoje em dia? E continuou seguindo sua vida, agora sob as determinações do acaso e de quem lhe desse alguma ordem.
Muitos anos depois, no entanto, lembrou-se de seus velhos rituais e, entediado, resolveu ressucitá-los. Pegou um caderno, manipulou as probabilidades em suas páginas, o guardou e esperou...
Nada aconteceu.
O que mudou?
O que faltava?