domingo, dezembro 24, 2006

Tive um sonho muito estranho. Claro, todos os sonhos são estranhos, mas esse foi diferente. Talvez porque tenha sido um sonho mais lógico, como uma história sendo contada ou um filme que eu estivesse assistindo (e atuando também, dado que era um sonho). Foi como uma mistura bizarra entre “Alice” (de Carrol), “Sandman” (de Gaiman) e lugares de Brasília. Inclusive aparecia uma Alice, do meio para o final do sonho, mas muito diferente daquela do desenho animado exceto, talvez, pela roupa. Bom, levando em conta que esse sonho me foi contado como uma história e que ando sem idéia alguma na cabeça, acho que posso criar uma história decente (ou o rascunho de uma história decente, como preferir) a partir desse sonho. Pelo menos é uma idéia.

"Num dia cinzento, numa cidade cinzenta, por ruas tortas e cinzentas corria um rapaz:estatura média, tipo físico normal, cabelos e olhos castanhos. Bom, isso não vêm ao caso agora; ele corria porque alguns homens corriam atrás dele. Os homens eram “máscaras”, policiais mascarados, e corriam porque alguém havia fugido da prisão. O rapaz também corria porque alguém havia fugido da prisão. Afinal, se um maníaco homicida estava à solta na cidade, o lugar mais próximo onde ele queria estar é o mais longe possível!

Logo, estavam todos correndo. O rapaz, então, entrou no primeiro beco que viu, sendo seguido pelos máscaras. Achando aquilo meio estranho, continuou correndo, saindo do beco e entrando num bar. Os máscaras seguiram o mesmo trajeto. Saindo pela porta dos fundos, correu ainda mais rápido, chegando a uma igreja. Vendo que os máscaras continuavam atrás dele, o rapaz – já P da vida – estendeu a mão e gritou em alto e bom som:

- Pááraaa!!!!!!!!!!!

Os máscaras pararam automaticamente.

- O que vocês estão fazendo?

Eles continuaram parados, olhando atônitos para o rapaz, até que o mais velho deles se pronunciou:

- Estamos perseguindo um perigoso fugitivo que escapou da prisão ainda hoje.
- Sei, e por que estão me perseguindo?

Todos fizeram cara de espanto e um outro máscara, o mais alto de todos, falou:

- Ora, você é o fugitivo!
- O quê???

O máscara mais velho, então perdeu a paciência.

- Ora, pare de se fazer de sonso Alice!
- Quem é Alice?

Todos os máscaras emudeceram.

- O que foi? Quem é Alice?
- Peguem-no! – gritou o máscara mais velho, apontando-lhe o dedo.

Todos os máscaras pularam em cima do rapaz, imobilizando-o e, logo, estavam levando-o para a Cabeça, uma torre de pedra com uma enorme cabeça esculpida por onde se entrava pela boca. Com muita dificuldade – já que o rapaz não parava de se debater – levaram-no para a masmorra e lá o jogaram, literalmente.

Revoltado e perdido, o rapaz olhou em volta. Estava sozinho numa masmorra enorme e escura e cheia de ratos. E o pior: sem saber o que fez para estar lá. Viu um balde vazio no chão e, no auge da fúria, chutou-o longe gritando “O que foi que eu fiz???”

- Cale a boca, idiota! – foi a resposta que recebeu.

Olhou em volta e notou, num cantinho escuro (embora toda a masmorra fosse escura), alguém deitado:uma menina. Sem se virar, ela disse “Estou tentando dormir!” e voltou a se aconchegar no piso frio. Embora não gostasse de atrapalhar os outros – principalmente a dormir, coisa que ele gostava muito -, aquela menina era sua única companhia, e ele precisava conversar. Com muita calma, ajoelhou-se perto dela e perguntou:

- Quem é você?

Ela não respondeu.

- Oi? Quem é você?

Visivelmente sem paciência, ela se virou e olhou para ele. Levantou-se, arrumou o cabelo e o vestido e, antes que ele pudesse ver, havia acendido um cigarro e o tragava lentamente.

- To vendo que você não vai me deixar dormir tão cedo. O que quer?
- Ahn... Quem é você?
- Eu – deu uma tragada – sou Alice. E você, quem é?
- Eu... não sei.
-“Não sei”? Que nome estranho.
- Não, eu não sei o meu nome. Quer dizer, agora a pouco me disseram que eu me chamava Alice, mas na verdade eu não lembro... como me... chamo – disse isso num tom decrescente, até sua fala sumir. Alice continuou olhando-o, séria. Deu outra tragada e disse:
- Não lembra o próprio nome? Isso não é bom.

O rapaz fez um muxoxo e abaixou a cabeça. Alice deu mais um trago e jogou o cigarro fora. Olhou para o rapaz, sentiu pena dele. Meio sem jeito, ofereceu-lhe um lenço que trazia no bolso. Ele aceitou, mas não usou. Depois de cinco minutos, ele se levantou e olhou a janela, uma pequena abertura gradeada na parede de pedra. O sol estava se pondo. Alice, então encostada num canto, lhe disse:

- Você pode ter perdido seu nome, já pensou nisso?
- Perdido?
- É, perdido. Esquecido ele num bar ou coisa parecida.
- Eu não costumo ir a bares.
- Você joga?
- Não.
- Deixa pra lá... Ou podem ter te roubado!
- Roubado?
- Acorda pra cuspir, meu filho! Roubado! Muitas pessoas nessa cidade precisam de um nome! – agora falando mais consigo mesma do que com ele – E do jeito que é tapado, não seria difícil.
- O que?
- Ahn... Não é da sua conta!
- Mas como eu faço para encontrar meu nome? – disse ele se sentando desanimadamente num balde.
- Ei, inteligência rara, que tal procurar? Se nome tem que estar em algum lugar da cidade.
- Tá mas... como a gente vai sair daqui?
- Olhe pra cá.

A garota estava de braços cruzados, sorrindo de forma superior. Na parede atrás dela havia um enorme rombo, como se a parede houvesse sido demolida.

- Quem fez isso? – perguntou o rapaz, boquiaberto. Estava surpreso por não ter notado aquilo antes.
- O seu amiguinho aí, na hora em que você o chutou. – disse ela apontando para o balde sobre o qual ele estava sentado. – E então, vamos? Estou louca por um trago.

Então ele se levantou e atravessou o buraco, acompanhado de Alice. Iria procurar seu nome."

Bom, é claro que há muito mais para contar. Do que eu me lembro, ainda há algo relacionado com condomínios residenciais sombrios, ascensoristas suicidas e tempestades, mas é melhor eu deixar isso para outra ocasião. Talvez eu transforme isso em quadrinhos, não sei. De qualquer forma, foi uma idéia que eu usei.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oh, Oh...isso sim pede uma quadrinização....sim senhor! Realmente, um conto digno de uma perdição...