sábado, dezembro 02, 2006

“Estavam correndo no Eixão. Alexandre, Ernani e João num Opala preto, seguidos por seis caras num Vectra grafite. Três deles eles conheciam (ou pelo menos pensaram reconhecer... não era uma boa hora para se sentar e ficar analisando a cara deles): Calango, Hudson e Bruno. A cidade estava silenciosa, era madrugada de sábado; e as únicas coisas que se ouviam até então eram tiros, muitos tiros. Calango estava puto.

- Putamerda! Putamerda!
- Cala a boca e acelera! Eles tão quase pegando a gente!!!
- Corre! Corre!! Corre!!!

Ouviram uma das lanternas traseiras se espatifar. Numa tentativa de desviar o carro dos tiros, Alexandre foi bruscamente pra faixa da esquerda – o que não adiantou muito, já que, logo após, acertaram o espelho retrovisor. “Caralho, isso sempre dá certo nos filmes!”, pensou e, logo depois, se achou ridículo por pensar isso e se recriminou duramente.

- Corre!!!
- To correndo, porra!!!

João estava assustado. Não bastasse eles serem caçados (e, importante, a um passo de serem pegos e fuzilados), agora aqueles dois idiotas iam inventar de discutir??? Tudo o que ele queria, agora, era que aquele barulho todo acabasse e que o deixassem em paz. Sentou-se, quase em posição fetal no banco de trás do carro e cobriu os ouvidos desesperado. Talvez por estar lacrimejando, pensou ter visto algo brilhando no assoalho. Então piscou, piscou de novo – mas dessa vez por sentir que acertaram o carro de novo -, limpou os olhos e, do chão, tirou dois revólveres 38. Sem saber mais o que fazer, apontou os dois, através do vidro quebrado, para o Vectra e atirou. Sentiu um choque na mão direita e quase deixou a única arma que funcionara cair. Acertou o pára-brisa e o braço de Hudson. Acertaram seu braço direito. Só com seu grito Alexandre e Ernani tomaram consciência do que lê estava fazendo.

- O que você ta fazendo???
- Aaai... eu... argh...
- Ce tava armado???
- Tavam no chão...
- Me dá! Anda!!!

João lhe passou a que estava na mão direita. Ernani, na janela, atirou onde e como pôde: o 1º tiro se perdeu, o 2º ricocheteou no capô e o 3º, o ombro de calango. Nesse meio tempo – e de uma forma que nem o próprio conseguiria explicar -, João conseguiu destravar o revólver falho e verificar a munição. Atirou com o braço esquerdo (o único que lhe sobrara) e, em quatro tiros, conseguiu acertar o peito de Calango e a pneu direito do Vectra, que já vinha desgovernado.

O carro capotou, dando duas cambalhotas antes de parar. O Opala parou, mais à frente.

- Por que você parou?? Vamo embora!!!

Alexandre o ignorou. Tinha de ver aquilo de perto, ter certeza de que tinha se livrado deles. O motor do Vectra soltava uma fumacinha estranha e uma roda ainda girava inutilmente contra o céu, ainda querendo avançar. Chegou bem lentamente, tentando – em vão – não quebrar aquele silêncio, quase que com medo de que qualquer barulho pudesse acordar os feridos do carro. Se abaixou e viu sangue pingando no chão. Daí uma dor súbita e atordoante na nuca. A escuridão...”

Um comentário:

Felipe Carvalho disse...

O que vai acontecer depois?
O que vai acontecer depois?

o.O

e não demora pra continuar a história

hehe