Tive um sonho muito estranho. Claro, todos os sonhos são estranhos, mas esse foi diferente. Talvez porque tenha sido um sonho mais lógico, como uma história sendo contada ou um filme que eu estivesse assistindo (e atuando também, dado que era um sonho). Foi como uma mistura bizarra entre “Alice” (de Carrol), “Sandman” (de Gaiman) e lugares de Brasília. Inclusive aparecia uma Alice, do meio para o final do sonho, mas muito diferente daquela do desenho animado exceto, talvez, pela roupa. Bom, levando em conta que esse sonho me foi contado como uma história e que ando sem idéia alguma na cabeça, acho que posso criar uma história decente (ou o rascunho de uma história decente, como preferir) a partir desse sonho. Pelo menos é uma idéia.
"Num dia cinzento, numa cidade cinzenta, por ruas tortas e cinzentas corria um rapaz:estatura média, tipo físico normal, cabelos e olhos castanhos. Bom, isso não vêm ao caso agora; ele corria porque alguns homens corriam atrás dele. Os homens eram “máscaras”, policiais mascarados, e corriam porque alguém havia fugido da prisão. O rapaz também corria porque alguém havia fugido da prisão. Afinal, se um maníaco homicida estava à solta na cidade, o lugar mais próximo onde ele queria estar é o mais longe possível!
Logo, estavam todos correndo. O rapaz, então, entrou no primeiro beco que viu, sendo seguido pelos máscaras. Achando aquilo meio estranho, continuou correndo, saindo do beco e entrando num bar. Os máscaras seguiram o mesmo trajeto. Saindo pela porta dos fundos, correu ainda mais rápido, chegando a uma igreja. Vendo que os máscaras continuavam atrás dele, o rapaz – já P da vida – estendeu a mão e gritou em alto e bom som:
- Pááraaa!!!!!!!!!!!
Os máscaras pararam automaticamente.
- O que vocês estão fazendo?
Eles continuaram parados, olhando atônitos para o rapaz, até que o mais velho deles se pronunciou:
- Estamos perseguindo um perigoso fugitivo que escapou da prisão ainda hoje.
- Sei, e por que estão me perseguindo?
Todos fizeram cara de espanto e um outro máscara, o mais alto de todos, falou:
- Ora, você é o fugitivo!
- O quê???
O máscara mais velho, então perdeu a paciência.
- Ora, pare de se fazer de sonso Alice!
- Quem é Alice?
Todos os máscaras emudeceram.
- O que foi? Quem é Alice?
- Peguem-no! – gritou o máscara mais velho, apontando-lhe o dedo.
Todos os máscaras pularam em cima do rapaz, imobilizando-o e, logo, estavam levando-o para a Cabeça, uma torre de pedra com uma enorme cabeça esculpida por onde se entrava pela boca. Com muita dificuldade – já que o rapaz não parava de se debater – levaram-no para a masmorra e lá o jogaram, literalmente.
Revoltado e perdido, o rapaz olhou em volta. Estava sozinho numa masmorra enorme e escura e cheia de ratos. E o pior: sem saber o que fez para estar lá. Viu um balde vazio no chão e, no auge da fúria, chutou-o longe gritando “O que foi que eu fiz???”
- Cale a boca, idiota! – foi a resposta que recebeu.
Olhou em volta e notou, num cantinho escuro (embora toda a masmorra fosse escura), alguém deitado:uma menina. Sem se virar, ela disse “Estou tentando dormir!” e voltou a se aconchegar no piso frio. Embora não gostasse de atrapalhar os outros – principalmente a dormir, coisa que ele gostava muito -, aquela menina era sua única companhia, e ele precisava conversar. Com muita calma, ajoelhou-se perto dela e perguntou:
- Quem é você?
Ela não respondeu.
- Oi? Quem é você?
Visivelmente sem paciência, ela se virou e olhou para ele. Levantou-se, arrumou o cabelo e o vestido e, antes que ele pudesse ver, havia acendido um cigarro e o tragava lentamente.
- To vendo que você não vai me deixar dormir tão cedo. O que quer?
- Ahn... Quem é você?
- Eu – deu uma tragada – sou Alice. E você, quem é?
- Eu... não sei.
-“Não sei”? Que nome estranho.
- Não, eu não sei o meu nome. Quer dizer, agora a pouco me disseram que eu me chamava Alice, mas na verdade eu não lembro... como me... chamo – disse isso num tom decrescente, até sua fala sumir. Alice continuou olhando-o, séria. Deu outra tragada e disse:
- Não lembra o próprio nome? Isso não é bom.
O rapaz fez um muxoxo e abaixou a cabeça. Alice deu mais um trago e jogou o cigarro fora. Olhou para o rapaz, sentiu pena dele. Meio sem jeito, ofereceu-lhe um lenço que trazia no bolso. Ele aceitou, mas não usou. Depois de cinco minutos, ele se levantou e olhou a janela, uma pequena abertura gradeada na parede de pedra. O sol estava se pondo. Alice, então encostada num canto, lhe disse:
- Você pode ter perdido seu nome, já pensou nisso?
- Perdido?
- É, perdido. Esquecido ele num bar ou coisa parecida.
- Eu não costumo ir a bares.
- Você joga?
- Não.
- Deixa pra lá... Ou podem ter te roubado!
- Roubado?
- Acorda pra cuspir, meu filho! Roubado! Muitas pessoas nessa cidade precisam de um nome! – agora falando mais consigo mesma do que com ele – E do jeito que é tapado, não seria difícil.
- O que?
- Ahn... Não é da sua conta!
- Mas como eu faço para encontrar meu nome? – disse ele se sentando desanimadamente num balde.
- Ei, inteligência rara, que tal procurar? Se nome tem que estar em algum lugar da cidade.
- Tá mas... como a gente vai sair daqui?
- Olhe pra cá.
A garota estava de braços cruzados, sorrindo de forma superior. Na parede atrás dela havia um enorme rombo, como se a parede houvesse sido demolida.
- Quem fez isso? – perguntou o rapaz, boquiaberto. Estava surpreso por não ter notado aquilo antes.
- O seu amiguinho aí, na hora em que você o chutou. – disse ela apontando para o balde sobre o qual ele estava sentado. – E então, vamos? Estou louca por um trago.
Então ele se levantou e atravessou o buraco, acompanhado de Alice. Iria procurar seu nome."
Bom, é claro que há muito mais para contar. Do que eu me lembro, ainda há algo relacionado com condomínios residenciais sombrios, ascensoristas suicidas e tempestades, mas é melhor eu deixar isso para outra ocasião. Talvez eu transforme isso em quadrinhos, não sei. De qualquer forma, foi uma idéia que eu usei.
domingo, dezembro 24, 2006
sábado, dezembro 02, 2006
“Estavam correndo no Eixão. Alexandre, Ernani e João num Opala preto, seguidos por seis caras num Vectra grafite. Três deles eles conheciam (ou pelo menos pensaram reconhecer... não era uma boa hora para se sentar e ficar analisando a cara deles): Calango, Hudson e Bruno. A cidade estava silenciosa, era madrugada de sábado; e as únicas coisas que se ouviam até então eram tiros, muitos tiros. Calango estava puto.
- Putamerda! Putamerda!
- Cala a boca e acelera! Eles tão quase pegando a gente!!!
- Corre! Corre!! Corre!!!
Ouviram uma das lanternas traseiras se espatifar. Numa tentativa de desviar o carro dos tiros, Alexandre foi bruscamente pra faixa da esquerda – o que não adiantou muito, já que, logo após, acertaram o espelho retrovisor. “Caralho, isso sempre dá certo nos filmes!”, pensou e, logo depois, se achou ridículo por pensar isso e se recriminou duramente.
- Corre!!!
- To correndo, porra!!!
João estava assustado. Não bastasse eles serem caçados (e, importante, a um passo de serem pegos e fuzilados), agora aqueles dois idiotas iam inventar de discutir??? Tudo o que ele queria, agora, era que aquele barulho todo acabasse e que o deixassem em paz. Sentou-se, quase em posição fetal no banco de trás do carro e cobriu os ouvidos desesperado. Talvez por estar lacrimejando, pensou ter visto algo brilhando no assoalho. Então piscou, piscou de novo – mas dessa vez por sentir que acertaram o carro de novo -, limpou os olhos e, do chão, tirou dois revólveres 38. Sem saber mais o que fazer, apontou os dois, através do vidro quebrado, para o Vectra e atirou. Sentiu um choque na mão direita e quase deixou a única arma que funcionara cair. Acertou o pára-brisa e o braço de Hudson. Acertaram seu braço direito. Só com seu grito Alexandre e Ernani tomaram consciência do que lê estava fazendo.
- O que você ta fazendo???
- Aaai... eu... argh...
- Ce tava armado???
- Tavam no chão...
- Me dá! Anda!!!
João lhe passou a que estava na mão direita. Ernani, na janela, atirou onde e como pôde: o 1º tiro se perdeu, o 2º ricocheteou no capô e o 3º, o ombro de calango. Nesse meio tempo – e de uma forma que nem o próprio conseguiria explicar -, João conseguiu destravar o revólver falho e verificar a munição. Atirou com o braço esquerdo (o único que lhe sobrara) e, em quatro tiros, conseguiu acertar o peito de Calango e a pneu direito do Vectra, que já vinha desgovernado.
O carro capotou, dando duas cambalhotas antes de parar. O Opala parou, mais à frente.
- Por que você parou?? Vamo embora!!!
Alexandre o ignorou. Tinha de ver aquilo de perto, ter certeza de que tinha se livrado deles. O motor do Vectra soltava uma fumacinha estranha e uma roda ainda girava inutilmente contra o céu, ainda querendo avançar. Chegou bem lentamente, tentando – em vão – não quebrar aquele silêncio, quase que com medo de que qualquer barulho pudesse acordar os feridos do carro. Se abaixou e viu sangue pingando no chão. Daí uma dor súbita e atordoante na nuca. A escuridão...”
- Putamerda! Putamerda!
- Cala a boca e acelera! Eles tão quase pegando a gente!!!
- Corre! Corre!! Corre!!!
Ouviram uma das lanternas traseiras se espatifar. Numa tentativa de desviar o carro dos tiros, Alexandre foi bruscamente pra faixa da esquerda – o que não adiantou muito, já que, logo após, acertaram o espelho retrovisor. “Caralho, isso sempre dá certo nos filmes!”, pensou e, logo depois, se achou ridículo por pensar isso e se recriminou duramente.
- Corre!!!
- To correndo, porra!!!
João estava assustado. Não bastasse eles serem caçados (e, importante, a um passo de serem pegos e fuzilados), agora aqueles dois idiotas iam inventar de discutir??? Tudo o que ele queria, agora, era que aquele barulho todo acabasse e que o deixassem em paz. Sentou-se, quase em posição fetal no banco de trás do carro e cobriu os ouvidos desesperado. Talvez por estar lacrimejando, pensou ter visto algo brilhando no assoalho. Então piscou, piscou de novo – mas dessa vez por sentir que acertaram o carro de novo -, limpou os olhos e, do chão, tirou dois revólveres 38. Sem saber mais o que fazer, apontou os dois, através do vidro quebrado, para o Vectra e atirou. Sentiu um choque na mão direita e quase deixou a única arma que funcionara cair. Acertou o pára-brisa e o braço de Hudson. Acertaram seu braço direito. Só com seu grito Alexandre e Ernani tomaram consciência do que lê estava fazendo.
- O que você ta fazendo???
- Aaai... eu... argh...
- Ce tava armado???
- Tavam no chão...
- Me dá! Anda!!!
João lhe passou a que estava na mão direita. Ernani, na janela, atirou onde e como pôde: o 1º tiro se perdeu, o 2º ricocheteou no capô e o 3º, o ombro de calango. Nesse meio tempo – e de uma forma que nem o próprio conseguiria explicar -, João conseguiu destravar o revólver falho e verificar a munição. Atirou com o braço esquerdo (o único que lhe sobrara) e, em quatro tiros, conseguiu acertar o peito de Calango e a pneu direito do Vectra, que já vinha desgovernado.
O carro capotou, dando duas cambalhotas antes de parar. O Opala parou, mais à frente.
- Por que você parou?? Vamo embora!!!
Alexandre o ignorou. Tinha de ver aquilo de perto, ter certeza de que tinha se livrado deles. O motor do Vectra soltava uma fumacinha estranha e uma roda ainda girava inutilmente contra o céu, ainda querendo avançar. Chegou bem lentamente, tentando – em vão – não quebrar aquele silêncio, quase que com medo de que qualquer barulho pudesse acordar os feridos do carro. Se abaixou e viu sangue pingando no chão. Daí uma dor súbita e atordoante na nuca. A escuridão...”
segunda-feira, novembro 13, 2006
Certas situações são tão pitorescas, tão comicamente triviais (e, conseqüentemente, próprias de crônicas do Veríssimo, séries de TV ou dos quadrinhos do Pekar), que você nunca imagina que elas poderiam acontecer com você. Pois é... mas tenho uma notícia: esse tipo de coisa acontece contigo, o tempo todo! O único detalhe é que, por algum motivo (falta de grana, os trabalhos da faculdade, doença, falta de tesão, a panela no fogo, as crianças ou o final da novela), você nunca repara... Até dar de cara com elas em alguma mídia e perceber o quanto elas são interessantes.
Uma dessas situações é a da clássica “Me compra um absorvente?”. Ok, ok, para as mulheres isso não é nada importante afinal o que há de errado em se comprar para alguém o mesmo que você compra para si? Mas para os homens é uma situação de risco para um de seus bens mais estimados: a (dita) masculinidade.
- Meu filho?
- Oi mãe. Pode entrar, a porta tá aberta.
- Você pode ir na farmácia comprar uma coisa?
- Tá. O que é?
- Um absorvente pra sua irmã.
- ...
- Você pode ir?
- Por que ela não vai?
- Porque ela tá com uma espinha “enorme” na cara e tá com vergonha de sair na rua.
- Vergonha?
- É.
- Ela tem coragem de sair na rua com aquelas calças e agora tá com vergonha por causa de uma espinha???
- Você pode ir ou não???
- Tá bom, tá bom, me passa o dinheiro então.
Foi pra farmácia já imaginando toda a situação: o Felipe, conhecido nas redondezas por ser o “machão pegador”, o olhando desconfiado assim que chegasse ao caixa da farmácia com um gracioso pacotinho de Sempre Livre, tamanho médio (e COM ABAS, como foi devidamente enfatizado em casa) e a desculpa que daria (já que nem namorada tinha). Chegou e, fazendo força para parecer o mais normal possível, foi até a prateleira, pegou o pacotinho – maldito! -, foi até o caixa, pagou e foi embora com a sacolinha. Sobrevivera à experiência e ninguém dissera uma única palavra!
Voltou pra casa meio aliviado e, também, meio decepcionado já que não pôde usar a resposta que vinha ensaiando desde que saíra de casa para tal missão. Ficou revisando-a vezes e vezes:
- Boa tarde!
- Boa tarde.
(olhando pro pacotinho e, depois, pra ele) – É foda quando nos obrigam a comprar essas coisas, não?
- Pois é...
- É pra sua namorada?
- Pra falar a verdade... é pra mim mesmo! O que até que é um bom sinal já que (como você deve saber) significa que não estou grávido!
- ...
(alisando a barriga) – Tava com um medo de ficar buchudo...
Uma dessas situações é a da clássica “Me compra um absorvente?”. Ok, ok, para as mulheres isso não é nada importante afinal o que há de errado em se comprar para alguém o mesmo que você compra para si? Mas para os homens é uma situação de risco para um de seus bens mais estimados: a (dita) masculinidade.
- Meu filho?
- Oi mãe. Pode entrar, a porta tá aberta.
- Você pode ir na farmácia comprar uma coisa?
- Tá. O que é?
- Um absorvente pra sua irmã.
- ...
- Você pode ir?
- Por que ela não vai?
- Porque ela tá com uma espinha “enorme” na cara e tá com vergonha de sair na rua.
- Vergonha?
- É.
- Ela tem coragem de sair na rua com aquelas calças e agora tá com vergonha por causa de uma espinha???
- Você pode ir ou não???
- Tá bom, tá bom, me passa o dinheiro então.
Foi pra farmácia já imaginando toda a situação: o Felipe, conhecido nas redondezas por ser o “machão pegador”, o olhando desconfiado assim que chegasse ao caixa da farmácia com um gracioso pacotinho de Sempre Livre, tamanho médio (e COM ABAS, como foi devidamente enfatizado em casa) e a desculpa que daria (já que nem namorada tinha). Chegou e, fazendo força para parecer o mais normal possível, foi até a prateleira, pegou o pacotinho – maldito! -, foi até o caixa, pagou e foi embora com a sacolinha. Sobrevivera à experiência e ninguém dissera uma única palavra!
Voltou pra casa meio aliviado e, também, meio decepcionado já que não pôde usar a resposta que vinha ensaiando desde que saíra de casa para tal missão. Ficou revisando-a vezes e vezes:
- Boa tarde!
- Boa tarde.
(olhando pro pacotinho e, depois, pra ele) – É foda quando nos obrigam a comprar essas coisas, não?
- Pois é...
- É pra sua namorada?
- Pra falar a verdade... é pra mim mesmo! O que até que é um bom sinal já que (como você deve saber) significa que não estou grávido!
- ...
(alisando a barriga) – Tava com um medo de ficar buchudo...
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